Acabei de ler o livro de Scotty Bowers, “Full Service”, de 2012, no qual o autor revela os segredos sexuais de atrizes, atores, produtores, diretores e demais profissionais do chamados Anos Dourados de Hollywood.
Interessei-me pelo livro depois que vi a minissérie “Hollywood” na Netflix. São apenas sete capítulos em que a Hollywood dos anos 40 e 50 é idealizada, isto é, luta-se contra a xenofobia, contra a homofobia e contra o racismo. É uma minissérie interessante, não espetacular e, na minha opinião, fantasiosa demais, o que não é um crime em absoluto. Só achei triste que pintassem um Rock Hudson beirando a debilidade mental – se o ator era simplório e humilde, vindo lá dos confins dos Estados Unidos, isso não quer dizer que fosse tão idiota como é retratado na minissérie. Bem, mas isso é um outro assunto. Quero falar mesmo é do livro…
Bowers descreve-se como um garoto bem simples, nascido numa fazenda no estado do Illinois, em 1923. Ainda na sua infância, foi seduzido e manteve um “namoro” com o fazendeiro vizinho, amigo de seu pai, homem casado e também pai de dois filhos. Começa aí a saga sexual do narrador biografado, que passa a ser um menino assediado, mais tarde, em Chicago, e que faz dinheiro satisfazendo homens casados e até mesmo padres, segundo seus relatos. E isso tudo sem que a mãe ou os irmãos desconfiassem.
Ele vai pra guerra – na qual perde o irmão mais velho – e, quando esta termina, resolve que não voltará pra Chicago, mas ficará em Los Angeles, cidade que ele conheceu quando tinha folga da Marinha e onde, obviamente, viveu muitas aventuras de farda… com homens e mulheres.
Afirmando sempre ter uma preferência por elas, seus relatos de transas com homens são bem numerosos. A começar pelo fato de que, ao se estabelecer em Los Angeles, já casado, vai trabalhar num posto de gasolina, indicado por um amigo da Marinha, e lá é assediado, primeiramente, pelo ator Walter Pidgeon, que já era um grande nome no cinema. O que vemos a seguir é uma epopeia de transas e “arranjos” de Bowers: quando não era ele mesmo, eram rapazes e moças que ele indicava para os milionários da indústria cinematográfica. E a lista de nomes é extensa, muito extensa. O próprios Bowers, casado e pai de uma filha, não passava um dia sem transar com alguém. Afirma ele que não cobrava para arrumar os encontros, só ganhava dinheiro quando ele mesmo transava.
À parte sua vida agitada e em meio a tanto sexo com homens e mulheres, o livro causou espanto, obviamente, pela lista de nomes que, no fim da vida (ele morreu em 2019, aos 96 anos), Bowers resolveu divulgar, não deixando pedra sobre pedra. Muitos se perguntaram – e chegaram a perguntar para o próprio Scotty – por que falar tudo depois de tantos anos. E ele justificou-se dizendo que, justamente por isso, por tantos anos terem se passado e pelo fato de essas pessoas não estarem mais neste mundo, é que ele se sentiu à vontade para botar a boca no trombone.
O livro é cativante para quem gosta de cinema e, principalmente, para quem gosta da velha, linda e charmosa Hollywood com seus galãs e mulheres maravilhosas que seduziam e faziam sonhar. Era uma época em que a TV ainda não tinha dado as caras, ou pelo menos não era tão popular como hoje. E Bowers vai destruindo mitos e lendas…
Um deles, o tal romance que se supunha impossível entre Spencer Tracy e Katherine Hepburn, por exemplo, porque ele era católico e não poderia se separar da esposa para ficar com a atriz. Segundo o livro de Bowers, tudo mentira inventada pelos estúdios para promover os filmes da dupla. Marketing puro, como diríamos hoje. E mais: Tracy, embora casado, transou com Bowers, ao mesmo tempo em que Hepburn preferia “moças jovens e morenas para a sua cama”. Todas arranjadas por Scotty.
Outra história interessante é o fato de o autor ter transado com Cary Grant e Rock Hudson, além de ter feito um ménage com Lana Turner e Ava Gardner. Nossa!
E o livro segue com nomes, locais, datas e acontecimentos. Embora tenha parado de trabalhar no posto onde o povo do cinema abastecia o carro (e a cama), Scotty continuou suas atividades porque começou a trabalhar como barman nas festas dos magnatas de Hollywood – e seus contatos e sua fama se intensificaram. Scotty afirma que sentia prazer não só em ajudar, mas também em esconder as preferências sexuais das pessoas famosas numa época tão conservadora.
Alguns tacharão o livro de pura fofoca e um compêndio de futilidades, acusando Bowers até mesmo de ter traído seus clientes e amigos. Outros vão encarar tudo aquilo com um sorriso, pois, como ele mesmo afirmava, “nada mais natural neste mundo do que o sexo”.
Interrogado se seu comportamento sexual seria um “distúrbio” por ter sido assediado tão cedo pelo fazendeiro e amigo de seu pai, Bowers dizia que não. Dizia que tudo para ele tinha sido muito bom e que guardava lembranças muito agradáveis daquele homem bem mais velho que o iniciara.
Há também um documentário sobre ele intitulado “Scotty Bowers and the secret history of Hollywood”, que eu vi e que é interessante – mas, no filme, já idoso, o homem mostra-se bem estranho e esquisito. Dá um pouco de agonia vê-lo como um acumulador compulsivo, enquanto revira o lixo para mostrar cartas e fotos dos muitos anos em que atuou como uma espécie de michê e cafetão ao mesmo tempo.
3 Comments
Vi o seriado “Hollywood ” que por sinal é muito interessante, mas realmente mostra mais uma Hollywood idealizada do que de fato seria.
Muito me interessei em conhecer mais sobre o livro aqui retratado,pois nada mais fustigante do que sabermos muito além das atuações de muitos Astros e Atrozes da Era de Ouro do Cinema.
Para mim em nada diminui minha admiração pelas atuações destes Astros e Atrizes por saber mais sobre as particularidades de suas Vidas.
Bela e Instigante Crônica.
Muito bom, aguça a vontade de ler o livro.
Assisti a minissérie pela Netflix, quanto ao documentário “Scotty Bowers and the secret history of Hollywood”, fui buscar na internet! Aquela coisa Hollywoodiana que fascina. Ambos interessantes, apenas.
“Eu quero serviço completo”, rs.