APRENDIZADO
“I wish that I knew what I know now
When I was younger
I wish that I knew what I know now
When I was stronger (…)” – Ooh La La
(Ron Wood & Ronnie Lane)
A revista americana Queerty – uma publicação digital com sede em San Francisco, na Califórnia, e especializada no mundo LGBTQ+ – trouxe uma matéria assinada por David Hudson, na qual homens homossexuais mais velhos dão 15 dicas aos gays mais jovens, baseando seus conselhos em experiências acumuladas ao longo da vida. Embora se diga que conselho nem sempre é uma coisa boa, achei o tema muito interessante!
Na introdução, um psicoterapeuta de Chicago, por exemplo, diz que “o que eu gostaria que estivesse disponível pra mim quando eu tinha 20 anos era a oportunidade de conversar com alguém que tivesse experimentado o que eu estava experimentando quando resolvi me assumir gay. Na época, não havia modelos na mídia e estávamos no meio da crise da Aids”. E eu me lembro de como tudo era novidade – para o bem e para o mal – na vida de um jovem gay. Acho que é um bom tema para uma futura crônica…
É claro que, quando somos jovens, nós nos consideramos onipotentes e sábios. Os “conselhos” que os mais velhos possam nos dar não passam de lenga-lenga e palavras chatas. Não estamos nem aí para os que viveram antes e sofreram antes ou foram felizes antes. Não temos ouvidos para eles, pois um mundo está se descortinando diante de nós e queremos “aproveitar”! Hoje, com mais de 50 anos, acho que aprendi bastante com os homens que conheci, embora poucos tenham sido gentis. Eu só me interessava por homens mais velhos e prestava atenção ao que diziam e relatavam depois de uma transa! Sempre fui um bom ouvinte… mas, sejamos sinceros, em nossa cultura damos pouco ou nenhum valor ao que os mais velhos possam nos dizer – e isso em todos os campos, não só no universo LGBTQ+.
Voltando à matéria, o jornalista informa que entrou em contato com alguns homossexuais com mais de 50 anos e os interrogou sobre o que eles gostariam de ter sabido sobre amor, vida, sexo e relacionamentos quando jovens. Alguns responderam anonimamente, outros tiveram prazer em se identificar – eu me incluiria no segundo grupo caso tivesse participado da pesquisa.
De acordo com a revista, as dicas foram as seguintes:
Certamente, o leitor mais experiente teria outras tantas dicas para a moçada que está começando sua vida homoafetiva. Eu diria mais: acho que essas dicas valem para todos, independentemente da preferência sexual.
Há um ditado (meio triste e melancólico), segundo o qual “os jovens dizem: ah, se eu soubesse!; os velhos dizem: ah, se eu pudesse!”. Mas acho que não precisa ser uma regra. Os jovens, hoje, estão rodeados de informação. Precisam parar e observar o que acontece. Os mais velhos também “podem”! Não ficar se lamentando porque não são mais adolescentes ajuda – e ajuda ainda mais se não desempenharem o papel ridículo de jovens tardios, escondendo sua amargura e sua idade feito “atriz de cinema”.
Quando estudamos o Realismo em Portugal, estudamos também a chamada Questão Coimbrã, uma polêmica entre António Feliciano de Castilho (escritor romântico e formal, resistente ao novo movimento que se iniciava) e os jovens escritores encabeçados por Antero de Quental. Após ser atacado por Castilho, Antero escreve, em 1865, uma das obras mais emblemáticas do Realismo português: “Bom Senso e Bom Gosto”. O texto é uma paulada! Um trecho dele:
“Levanto-me quando os cabelos brancos de v. ex.ª passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas, que saem dele, confesso não me merecerem nem admiração nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. ex.ª precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão”.
Se os mais novos vão nos dar ouvidos ou não, isso é problema deles. A não ser que se morra jovem, envelhecer é uma coisa inevitável – mas envelhecer com sabedoria é um privilégio.
6 Comments
Mais uma crônica excelente, Vitão! Sabemos muito bem, como professores, que os jovens são bem resistentes para ouvir os nossos conselhos. A troca de experiências é de suma importância entre as gerações. A vida é muito efêmera e os momentos de felicidade são raros. Parabéns por mais esse trabalho e um grande abraço, Bob.
Bacana, dicas que valem para todos!
Um boa parte dos jovens são resistentes, sim, como nós também fomos! Entendo que a troca de experiência é válida para qualquer idade.
Realmente quando era jovem nas décadas de 80 e 90 eu não tinha com quem conversar sobre Homossexualidade e isto me entristecia e muito,assim ficava sozinho pensando sobre o que acontecia comigo.
Em meados da década de 90 chegou um momento em que não aguentei guardar mais meus desejos secretos e resolvi sozinho conhecer o Mundo Gay.
Foi bom por ter ido viver a minha sexualidade, mas claro que levei muitos tombos,mas foram importantes para mim.
Gostei desta Crônica ao retratar a realidade do se eu soubesse na época com o que sei hoje e digo que muitas coisas teriam sido diferentes .
A Vida é assim mesmo e vamos com o Tempo amadurecendo,mas creio eu que algumas pessoas acabam não amadurecendo em toda a Vida.
Bela Crônica
👏👏👏
Confesso que sou muito grato a você, pelas inúmeras conversa que já tivemos exatamente sobre isso, não só aprendo com você, como tenha a sensação de ter vivido com você as tuas histórias. É excepcional ter ao seu lado, pessoas que podemos não só confiar, como também podemos conversar diversos assuntos sem nenhum tabu. No auge dos meus 42 anos, eu posso lhe dizer, que certas coisas aconteceram e tiveram resultado muito menos traumáticos quando tive a oportunidade de compartilhar certos acontecimentos com você. E você foi tão receptivo, que eu só tenho a dizer: “Feliz o homem, feliz é a mulher que tem alguém em que possa confiar”. E muitas vezes observo nos lugares que frequento, quanto o ser humano está carente e o quanto sofre pela falta alguém não apenas mais experiente, mas alguém que confie e possa ser quem ele é, sem medo. Parabéns pelo artigo! Gde bjo
Muito bom. Acho q conselhos tem que ser dado a quem pede. Quando um jovem quer escutar uma pessoa mais velha é um grande prazer fazê-lo.