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HISTÓRIA RÁPIDA DE SAUNA

       Ele tem 25 anos, corpo malhado e depilado, sabe que é gostoso e desejado, faz sucesso por onde passa, mas a arrogância é sua principal característica. Vaidoso, gosta de perfumes importados, e o que ganha é gasto com roupas, tênis, sapatos, celulares e, claro, com seu carro (que ele troca todo ano).

       Nesta tarde de quarta-feira, saiu da academia a fim de transar! Ele quer gozar muito e a melhor opção, pensa, é uma sauna do centro que ele já conhece. Quer aproveitar que o namorado está viajando a trabalho e quer “mudar o cardápio”, como costuma dizer. “Arroz e feijão, todo dia, enjoa. Tem que haver uma variação…”. Dá uma passada em casa, deixa a mochila e lá vai ele para a folia.

       Desliga o celular – se o outro ligar, diz que estava carregando ou inventa uma desculpa qualquer – e tranca tudo no armário antes de se aventurar à procura de um bom corpo. Não demora muito, enxerga um daddy bonitão, gostosão e peludo como há tempos ele não tem nos braços. O homem é forte, alto. Chama a atenção. O rapaz está namorando um outro até bastante bonito, mas sente falta de um homem mais velho de vez em quando. “Arroz com feijão, todo dia, enjoa…”.

       Aproxima-se do homem bonitão, sorri, e as carícias começam ali mesmo, no quarto meio escuro. A “química” é boa, os dois ficam excitados e resolvem sair dali para um lugar de maior privacidade. Ele convida o coroa para ir ao seu apartamento. O bonitão aceita.

       No caminho, fica sabendo que o daddy é gerente de banco e, naquela tarde, saiu para uma consulta médica e resolveu não votar para a agência. Ele é casado, tem um casal de filhos e leva uma vida dupla tranquilamente. Diz que adora os filhos, tem paixão por eles. Tem 58 anos, 35 de casado, mas transa com homens desde os 30. Está em forma porque faz exercícios regularmente.

       Pergunta se o outro mora sozinho. O arrogante diz que sim, embora tenha namorado. “Um rapaz mais jovem, mas que eu não amo. Ele me ama, já me disse isso várias vezes. Estamos juntos há poucos meses. Ele é muito romântico, boboquinha, meio chato, sabe? Não consigo me envolver com ninguém, entende? Gosto dele, mas gosto de tantos outros! De caras como você, por exemplo”. E deixa o daddy meio constrangido.

       Chegam ao apartamento do rapaz e começam, na sala mesmo, a fazer tudo aquilo que podem – beijos, abraços, roupas no chão, sapatos jogados pra longe e, finalmente, a cama. A transa é quente, a transa é muito boa! O rapaz deita-se, o daddy começa a beijá-lo da boca ao pau, e, quando já não se aguenta mais, penetra o mais jovem, fazendo-o gemer e prazer. O pau do homem é avantajado, glande rosada, pronta para a penetração. Ele pega a camisinha, pede ao outro um pouco de lubrificante e esquece o mundo lá fora. Neste momento, só existe este rapaz um tanto arrogante, pernóstico e cheio de si. Transa com raiva – com tesão e com raiva! Gozam mais de uma vez.

       Os dois estão exaustos. Que transa boa! O rapaz, satisfeito, sorri e diz: “Eu estava com saudade de um homão assim em cima de mim. Meu namorado é mais novo. Como eu lhe disse, meio bobinho, romântico. Acho que tenho que voltar a namorar um cara mais velho mesmo…”.

       O daddy, já de pé e de volta da sala, onde pegou suas roupas, sente um certo desprezo pelo outro. Trair, todo o mundo trai. Agora, desdenhar do namorado para um desconhecido é demais! Sujeitinho desagradável. Já estava arrependido de ter transado com ele. Bem, a coisa já estava feita. O negócio era cair fora logo. Pelo menos, gozou gostoso. Duas vezes!

       Foi nesse instante em que o rapaz, tomado de muita vaidade, disse, com um sorriso irônico, apontando para o celular: “Olha a foto do romântico! Olha a cara de bobo. Vê se ele tem futuro…”.

       O coroa ficou lívido. Seu sangue deve ter ido todo para o pé naquele segundo. Avançou sobre o rapaz que ainda estava deitado e nu. Pegou-o pelo pescoço e, olhando bem em seus olhos, disse, tomado de ódio:

       – Esse boboca, esse romântico, esse rapaz que você está traindo é meu filho, seu animal! É, é meu filho! Se você continuar a enganá-lo, vai entrar pelo cano, entendeu? Se você fizer meu filho sofrer, vai se dar muito mal. Eu venho aqui e a gente acerta as contas, seu palhaço!

       Só aí percebeu que o outro estava sufocando com o pescoço apertado pela mão do homem indignado.

       – E tem mais: se você disser um pio pra ele sobre mim, venho aqui e faço você engolir essa sua arrogância com os dentes. Fui claro? Seu ridículo! Seu bostinha!

       Saiu sem olhar pra trás. Na cama, o outro começava a chorar, assustado.

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

4 Comments

  1. MARCO ANTONIO GONCALVES disse:

    Muito bom e interessante,uma história que pode ser real e verdadeira…..

  2. Clarice keri disse:

    Ótima história, adorei os detalhes.

  3. Caramba, “viajei”. Rapaz abusado.

  4. Marcelly disse:

    Chocada com o desfecho!!!

    Abraços da sua fã de São Petersburgo.

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