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OLIVIA

Para aqueles que, como eu, cresceram nos anos 70, a figura sempre doce de Olivia Newton-John foi onipresente no fim da década e no começo da década posterior. Como a gente não tinha muita informação, uma geração inteira, aqui no Brasil, achou que ela havia começado sua carreira com “Grease”, em 1978, ao lado de John Travolta. Para muitos, ela era uma atriz que cantava. Na verdade, era o contrário.

Olivia, uma britânica naturalizada australiana, era de ascendência alemã, segundo me informa a internet. Gravou seu primeiro disco em 1966, mas seu primeiro grande sucesso foi em 1971, com “If not for you”, composição de Bob Dylan. Interessante salientar que, durante muito tempo, sua carreira foi seguindo a música country. Em 1973, ficou três semanas nas paradas de sucesso com “I honestly love you”. (Para quem acompanhou o seriado Will & Grace, é exatamente essa música que o advogado gay tem de cantar em cima de um piano, imitando Michelle Pfeiffer em “Susie e os Baker Boys” [1989] a fim de conseguir a conta da cliente, a hilária Karen Walker.)

Em 1976, lançou a bonita “Sam”, outro de seus grandes sucessos.

“Grease” estourou no mundo inteiro. O filme e a trilha sonora com as canções “Hopelessly devoted to you”, somente com a voz de Olivia, e os duetos dela com John Travolta em “You´re the one that I want” e “Summer Nights” fizeram muito sucesso. As músicas tocavam dia e noite nas rádios; conheci gente que foi ao cinema mais de 15 vezes; o LP com a trilha sonora vendia mais do que camarão na praia. Uma febre mesmo! E não estou exagerando.

Uma das coisas mais notáveis do filme (e de Olivia!) era que uma mulher de 30 anos fazia o papel de uma adolescente de 16, 17 anos… e era convincente!

Ela, agora, passava do country ao pop.

Na esteira do sucesso de Grease, veio o projeto de “Xanadu”. “Xanadu” é um filme ruim, ou, como dizemos por aqui, uma bomba! Dele, o que vale é a trilha sonora: além das canções da Eletric Light Orchestra – banda inglesa muito famosa nos anos 70 e 80 –, Olivia cantava a música-tema, além de “Magic”, “Suddenly” (com Cliff Richard) e “Whenever you´re away from me” (com o grande Gene Kelly). Vale lembrar que muita gente lamentou a presença do ator num filme tão ruim – bem, ele deve ter recebido uma boa grana. O primeiro marido da atriz, o norte-americano Matt Lattanzi, também participou de “Xanadu”. O casamento durou de 1978 a 1992, e eles tiveram uma filha, Chloe, nascida em 1986.

Certa vez, li uma matéria numa revista americana na qual se perguntava a atores e atrizes sobre algum arrependimento que pudessem ter em suas carreiras. Olivia foi direta: “Eu me arrependo de Xanadu. Foi um filme feito às pressas, história e roteiro fracos, diálogos fracos também”.

Ainda assim, a cena final do filme, na qual todos dançam ao som da canção título, na estreia da casa de mesmo nome, tornou-se um ícone para os gays. A moçada adorou o colorido, os patins, a música, a ferveção toda!

Passado isso, Olivia retomou sua carreira de cantora sem filmes. Em 1981, lançou o LP “Physical”, que foi outro estouro de vendas, muito por causa do clipe da música-título. Adotou um outro visual, cabelo bem curto, bandana na cabeça e vamos em frente! Visual saúde.

Os autores da música queriam, primeiramente, que ela fosse gravada por Rod Stewart. Depois, foi oferecia a Tina Turner, mas estava mesmo destinada a Olivia Newton-John. Tudo apontava para uma grande transformação em sua carreira – a sensualidade, o charme, os olhos azuis penetrantes, o tal “empoderamento” etc… mas foi o vídeo que estourou nas paradas.

Nele, muitos vão lembrar, a cantora está malhando numa academia – o santuário gay por excelência! –, interpretando uma “personal trainer” para um grupo de homens não muito atléticos, os quais estão dando duro nos aparelhos. A certa altura, Olivia sai da sala de malhação e entra no chuveiro, e é aí que que todos os homens ficam com corpos maravilhosos, bem malhados. Quando retorna, fica surpresa com o resultado, mas tem dificuldade em conseguir um dos alunos para jogar tênis com ela. Como assim? Bem, eles são gays! Eles começam a se distrair com seus próprios músculos, antes de conseguirem parceiros e saírem pela porta de mãos dadas, uns com os outros. A MTV americana se recusou a exibir o clipe com a parte em que os bonitões se arranjam. Eram os anos 80! Olivia fica com um gordinho mesmo…  e feliz! É engraçado.

O vídeo também foi exibido em tudo o que foi programa de clipes na TV brasileira. Não me lembro de ter havido qualquer censura por aqui.

Em 1982, a cantora veio ao Brasil e participou da novela das 7h, “Jogo da Vida”. Se não me falha a memória, ela cantava na inauguração da boate do personagem de Paulo Goulart. Foi um acontecimento! Isso faz 40 anos! O vídeo está no Youtube.

Por falar em vídeo, o meu predileto sempre foi “Landslide”, no qual ela faz uma espécie de bruxa que encanta os homens e os aprisiona na masmorra de seu castelo. Olivia está lindíssima. O homem seduzido é o marido, Matt.

Em 1983, Olivia e Travolta foram escolhidos novamente como par romântico. Dessa vez, para o filme “Two of a kind” (no Brasil, “Embalos a Dois”). Apesar de os dois estarem bem bonitos e de o filme trazer duas músicas bem pop e de certo sucesso (“Twist of Fate”, solo, e “Take a chance”, em dueto com Travolta), um outro abacaxi! Lembro de ter ido, no começo de 1984, num sábado à noite, ao Cine Olido, no Largo do Paissandu, bem ao lado de onde ficava a Ducal. Sessão das 8h da noite. Éramos eu e mais quatro pessoas no cinema. A história não ficou em cartaz mais do que uma semana. Um fiasco!

Na minha lembrança, seu último grande sucesso foi “Soul Kiss”, de 1985. Mais uma vez, uma música que contava com um clipe muito bonito – protagonizado por Olivia, claro, e pelo marido, Matt Lattanzi. Ela está linda, sexy, no papel de uma loira fatal. Ele está gostosão, também. De “Xanadu” para “Soul Kiss”, a idade fez muito bem para o moço.

Olivia fez muitas outras coisas. Tinha uma voz bonita, além de ser, ela mesma, muito bonita. Lembrava um pouco a nossa Maitê Proença. Creio que deve ter agradado a todos – os heteros devem ter “sonhado” muito com ela; os gays… bem, os gays a tinham como ídolo fazia muito tempo.

Foi muito amiga de Karen Carpenter e é uma pena que nunca tenham gravado nada juntas.

Em 1992, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Em 2013, houve uma recidiva; e em 2017, uma nova ocorrência. Em 2019, lançou seu livro de memórias, “Don´t stop believing”. Nascida em 26 de setembro de 1948, foi vencida pela doença no último 08 de agosto, aos 73 anos.

Sua morte causa tristeza e uma nostalgia de muita coisa. É (mais) um pouco da juventude da gente que se vai…  

                                 

Se nunca viu ou quer rever o vídeo de “Physical”:

https://www.youtube.com/watch?v=vWz9VN40nCA

 

Olivia na novela “Jogo da Vida”, Rede Globo, 1982:

https://www.youtube.com/watch?v=2jSAwy9nQcM

 

“Landslide”:

https://www.youtube.com/watch?v=T7r_-Nrrs7o

 

 

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

0 Comments

  1. Shirleyne disse:

    Que texto gostoso. Que mexe com nossas lembranças. Adorei os links.
    Sugestão: disponibilizem junto ao texto, versão em áudio.

  2. Linda homenagem! Músicas inesquecíveis, olhos penetrantes que marcaram nossas vidas. Se eu tivesse que escolher apenas uma música, seria difícil.

  3. Marco Antônio Gonçalves disse:

    Sensacional.

  4. Marco Antônio Gonçalves disse:

    Sensacional.Simplesmente sensacional.

  5. Marco Antônio Gonçalves disse:

    Interessante que o passado nos trás tanta nostalgia,éramos felizes sem dúvidas.

  6. Marco Antônio Gonçalves disse:

    Texto leve e muito instrutivo,me fez sonhar de novo….,

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