Uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina de Yale, nos Estados Unidos, que observou 393 mil pessoas, sugere que há uma ligação entre pertencer ao grupo LGBTQ+ e uma saúde mental debilitada na velhice. E isso inclui uma maior incidência de depressão, derrame e demência (um grupo de sintomas caracterizado pela disfunção de pelo menos duas funções do cérebro, como a memória e o discernimento). A média de idade entre os pesquisados foi de 51 anos. O estudo foi publicado na revista “Neurology”.
O relatório aponta, sem a intenção de vitimizar qualquer grupo, que as disparidades entre os heteros e os homossexuais, quando o assunto é saúde, não são novas. Segundo estudos mais antigos, os gays de ambos os sexos estão mais propensos ao estresse e à depressão do que os heterossexuais – e isso teria a ver com a discriminação e o preconceito que sofrem durante boa parte de suas vidas.
Como consequência, os gays teriam uma queda maior pelo tabaco e pelo álcool (ou drogas mais pesadas), o que, obviamente, lhes traria mais problemas de saúde. Isso tudo sem falar no HIV e nas consequências que as pessoas conhecem há muito tempo.
A pesquisa verificou, entre as pessoas estudadas, que 21.091 tinham uma doença neurológica. Destes, 11.553 sofreram depressão tardia, 6.605 foram vítimas de derrames e 2.933 tiveram demência. O estudo também constatou que os gays mais velhos tinham uma probabilidade 14% maior de demência e uma incidência 27% maior de depressão na velhice do que os heteros.
O Dr. Shufan Huo, responsável pela pesquisa, declarou: “Em um mundo que reconhece cada vez mais o papel crucial dos cuidados de saúde equitativos, é preocupante o pouco que se sabe sobre as disparidades enfrentadas pelas pessoas LGBTQ+ nesse campo. Analisamos esse grupo que tem sido tão sub-representado nas pesquisas neurológicas e descobrimos que tinham um risco maior de resultados adversos à saúde do cérebro. Nossas descobertas ressaltam a necessidade de mais pesquisas com foco nas disparidades de saúde que afetam a comunidade LGBTQ+, e as possíveis razões para essas disparidades podem incluir discriminação, estresse, (pouco) acesso a cuidados de saúde e fatores políticos e legais”.
Recebi esse informe pela revista eletrônica Queerty, e me pareceu um estudo bem relevante e sério – a instituição onde foi feito, pelo menos, e de renome internacional. Não sou um profissional da saúde, não tenho qualificação para opinar sobre o assunto do ponto de vista médico… mas sou gay e tenho visto e vivido situações que dizem respeito ao estudo de Yale.
Se me fosse perguntado o que eu considero como grandes causas de estresse e depressão entre os homossexuais, eu apontaria o medo de não ser aceito, o medo de desapontar as pessoas queridas, o medo da discriminação e do isolamento. Muitos dirão que a coisa melhorou muito hoje – e eu responderia que, sim, melhorou, mas não para todo o mundo.
Ainda há pessoas da minha idade, na casa dos 60 anos, que não são aceitos pelos pais (esses na casa dos 80 ou 90, quando vivos) e que, mesmo donas do próprio nariz, pagando suas contas (e muitas vezes, as contas desses pais), precisam manter a “lei do silêncio”, segundo a qual “tudo se sabe, mas nada se fala”. Há muita, muita gente que, independentemente da idade, ainda vive na sombra, ou “no armário”, como se costuma dizer hoje.
Ainda há pessoas escanteadas pelas famílias mais tradicionais; ainda há pessoas que são postas pra fora da casa dos pais por causa de sua homossexualidade. Ainda há gente que acha que todo gay, todos, sem exceção, são promíscuos, escandalosos e, assim, merecem o distanciamento. Isso, quando o próprio homossexual não se aceita, odiando-se a si mesmo, levado a crer que não merecia ter nascido. Ainda são altos os índices de suicídio entre essas pessoas. E o que dizer do fator religião?
Não quero minimizar, aqui, os problemas enfrentados por pessoas heterossexuais, mesmo porque nem todos os problemas passam pela sexualidade. O mundo tem outros temas, a vida aborda outros fatores inerentes à existência neste mundo. A pesquisa da universidade americana diz respeito a um desses fatores. Tristeza e depressão podem acometer qualquer pessoa, é claro.
Durante muito tempo, experimentei a solidão em sua pior face – aquela em que a gente se sente solitária não apenas porque não fala com ninguém sobre a questão, mas principalmente porque não aceita a própria vida que se apresenta. Como fazer alguém aceitar e respeitar o que nem a pessoa aceita e respeita?
Mais tarde, com tombos e tropeços, a gente cresce, amadurece e a solidão passa a ter uma outra face: a face de quem está em paz consigo mesmo, que se respeita e que é respeitado pelos outros. Como disse Oscar Wilde, gostar de si mesmo é um romance para a vida inteira.
Se você, caro leitor, cara leitora, que é heterossexual, conviver de pertinho com alguém que não o seja, observe se esta pessoa não está deprimida ou mesmo ansiosa para lhe falar sobre sua homossexualidade. Abra caminho para o diálogo, ponha-se na posição de respeito e mostre que você está disposto a ouvi-la.
Talvez o quadro mostrado pela pesquisa de Yale possa ser mudado num futuro próximo.
3 Comments
Olá Prof Vitor
Excelente crônica. Sensível e oportuna. Os malefícios do preconceito e da descriminação ainda são subestimados. Em pleno século XXI.
Parabéns pela crônica. .
Muito interessante esta Pesquisa. Também estou chegando aos 60 anos e começo a me preocupar com a velhice . Nosso Século XXI mostra uma tendência,tomara que não ocorra de aumento de Depressão e Suicídios.
É um assunto que temos de pensar e todos temos de nos cuidar sejamos de qual Orientação Sexual formos nós.
Muito boa a Crônica
Professor, Crônica de extrema relevância, também! Me preocupo com a velhice já não é de hoje – cheguei aos 60 com sabor de “quero mais”.