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MAGNUM

Ainda eram os dias dos poucos canais abertos; vídeo cassete, só quem tinha era um pessoal com uma graninha a mais, porque custava caro pra caramba. Televisões “pegando” (muito mal) via antena. A coisa da TV a cabo começava a engatinhar nos Estados Unidos e demoraria bastante para chegar até a estas bandas. Não tínhamos essa tonelada de seriados que temos hoje, e os melhores eram geralmente exibidos pela Rede Globo – mesmo assim, com aberturas e fechamentos cortados pela emissora carioca. Tudo pra se economizar tempo. Quem saía perdendo era o público, claro… mas era o que a gente podia ver.

No fim de 1981, a emissora pôs no ar – em horário nobre – o longa metragem “Não coma neve no Havaí”. Na verdade, era o piloto de “Magnum, P.I.” (“Investigador Particular”, em inglês) que já vinha fazendo sucesso nos States. A estratégia, obviamente, era despertar a atenção do público e atraí-lo para os episódios semanais que a Globo já havia comprado.

No começo de 1982, a série começou a ser exibida semanalmente e foi um sucesso. O ator principal, Tom Selleck, fazia o papel de um veterano do Vietnã, um “bon vivant” que, em troca de guardar a mansão de um riquíssimo escritor de best sellers (Robin Masters), podia viver na mansão, de graça, desfrutando de todos os luxos… de quase todos! Thomas Magnum sofria a divertida oposição por parte de Jonathan Quayle Higgins, um mordomo inglês que infernizava o detetive e não perdia a chance de mostrar como os americanos eram vulgares aos olhos dos britânicos. Ajudavam na guarda da mansão – cujos fundos davam para uma praia particular – dois dobermans de nome Zeus e Apolo, que obedeciam ao mordomo e também tiravam o sossego do detetive. Magnum, seu bigode, suas camisas floridas e a Ferrari vermelha marcariam época!

O plano da CBS foi aproveitar o que havia restado do seriado “Havaí 5.0”, exibido de 1968 a 1980. “Magnum, P.I.” (no Brasil, só “Magnum”) vinha na carona dessa série de detetives e deu certo. Tom Selleck, Roger E. Mosley, Larry Manetti e John Hillerman formavam um quarteto divertido, sendo que os três primeiros eram companheiros da Guerra do Vietnã. Essa foi, aliás, a primeira série televisiva a mexer no vespeiro dessa guerra até hoje muito mal digerida pelos norte-americanos. Magnum era um homem ferido física e emocionalmente.

Tom Selleck vinha de muitas tentativas de estrelato. Havia feito comerciais de TV, novelas vespertinas (aquelas “soap operas” medonhas que infestam os canais da TV americana e que duram vinte, trinta anos) e havia participado de outras tantas séries como ator convidado, além de alguns “pilotos” que nunca fizeram sucesso, cujas séries foram canceladas depois de alguns episódios no ar.

Seu papel mais significativo havia sido o detetive rival de James Garner em “Arquivo Confidencial” (“The Rockford Files”), série de muito sucesso e exibida por aqui também. Foi com “Magnum” que ele estourou e foi descoberto pelo mundo. A história mais interessante envolvendo as produções do seriado dão conta de que o ator foi escolhido por Steven Spielberg para ser o Indiana Jones de “Os Caçadores da Arca Perdida”, filme de um sucesso estrondoso que dispensa explicações – quem era vivo se lembra!

O problema é que Selleck já havia assinado com os produtores da CBS e não pôde aceitar o papel que, certamente, o consagraria no cinema. Voou para o Havaí e, ironicamente, os roteiristas entraram em greve. Trocando em miúdos: teria dado tempo para ele fazer o filme com Spielberg e, depois, começar a série. Seu substituto, no entanto, já havia sido escolhido. E Indiana Jones ficou com a cara do Harrison Ford em todos os filmes lançados.

Thomas William Selleck nasceu em 29 de janeiro de 1945, em Detroit, Michigan. Com o sucesso da série, explodiu no mundo inteiro e seu rosto era visto em capas de revistas, jornais e, posteriormente, em vários filmes para o cinema que ele fazia nos intervalos de “Magnum”. Eu era adolescente, e poucas pessoas entenderam – ou poucas quiseram entender – porque eu era fascinado pelo seriado. Claro que meu interesse não era somente pelas aventuras do detetive, mas também porque ele invariavelmente aparecia de calção apertadinho, sem camisa, saindo do mar, mostrando seu corpo atlético e sorrindo cinicamente para a câmera.

Eu comprava revistas americanas para ler sobre o homem e dou risada de como tudo seria mais fácil hoje com a internet – naqueles dias, episódio perdido era episódio que não se veria mais. As TVs não reprisavam séries que estavam sendo produzidas. O caminho era o vídeo cassete, mas cadê a grana pra comprar um?

A Globo, num desrespeito muito grande pelo público, exibiu Magnum em tudo quanto foi horário – noites de 2ª feira, 3ª feira, 4ª feira; madrugada de 6ª pra sábado; tardes de sábado; tardes de domingo. E a gente que se virasse para ver!

Há uma evolução interessante: as primeiras temporadas são mais cômicas, descontraídas, com episódios mais leves. Com o passar do tempo, histórias mais sérias vão sendo contadas – tanto sobre a vida do detetive, quanto sobre seu passado no Vietnã (Magnum foi casado, por exemplo, e sua esposa ficou no sudeste asiático por questões políticas.)

Não posso deixar de destacar o maravilhoso trabalho dos dubladores, principalmente Francisco Milani (dublador do protagonista), que, numa entrevista muito anos depois do encerramento da série, declarou que sempre achou Magnum “meio gay”. Ri bastante quando li isso!

A série durou oito temporadas, mas por força dos fãs americanos: Magnum leva um tiro na sétima temporada e entra em coma. O seriado terminaria com sua morte. Os fãs se mobilizaram e exigiram uma oitava temporada, na qual o detetive volta para a Marinha e segue sua vida. (E isso, antes das redes sociais!)

Essa série tem mais significado para mim e para minha entrada na minha maturidade homossexual do que posso expressar aqui. Alguns amigos eram cúmplices na minha apreciação do seriado; alguns simplesmente não me entendiam; outros me olhavam com desprezo, uma homofobia disfarçada de distanciamento. Não foi muito fácil. Lembro que uma amiga muito querida, Clarice, me deu uma miniatura de uma Ferrari – o que casou ciúme por parte de algumas pessoas.

Hoje, é claro, tenho a série inteira em DVD. Já vi inteira mais de uma vez e logo farei isso de novo. Em 1987, fui ao Havaí e passei de ônibus em frente à “mansão de Robin Masters”. Quanta coisa me veio à mente!

Desde 2018, está no ar o “remake” de “Magnum, P.I”. Na nova série, o detetive perdeu o bigode e é interpretado por um ator latino. Tentei acompanhar, mas não deu: além de outras mudanças, Higgins, agora, é uma mulher, e Magnum não tem metade do charme e do carisma que teve um dia. Deixo pra moçada mais nova.

Na internet, pude ver alguns comentários dos antigos fãs. Eles fazem coro quando dizem: “Magnum, só tem um: seu nome é Tom Selleck!”. Concordo totalmente.

Ele acabou de completar 77 anos. Está na CBS americana e em algum canal brasileiro por assinatura, estrelando uma série chamada “Blue Bloods”, na qual interpreta Frank Reagan, o chefe de polícia de Nova York e patriarca de uma família dedicada a combater o crime. O seriado está em sua 12ª temporada, o que é um sinal claro de sucesso. Vi alguns episódios e não me empolguei. Mas o homem continua interessante.

Sempre tive a sensação de que um dia eu o encontraria num aeroporto americano. Quem sabe?!

Desejo um Feliz Aniversário para o bonitão que, nem de longe, imagina sua história na minha adolescência!

 

 

 

 

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

3 Comments

  1. Magnum só tem um, Tom Selleck!
    O remake é horrível, como diz uma amiga, “não vira”.
    A música de abertura é fantástica.!Tom continua um “pão”.
    Minha mãe usava essa palavra para dizer que aquele homem é bonito.

  2. Baltasar Pereira disse:

    Lembro-me deste Seriado.
    Assistia aos Sábados à tarde e gostava e principalmente me divertia com a relação entre Magnum e o Mordomo.
    Não conhecia a história do ator Tom Selleck e o quanto lutou para conseguir ficar conhecido no meio artístico.
    Continua a trabalhar até hoje e isto também não sabia.
    Interessante lembrar que na década de 80 não tínhamos Canais Pagos e tínhamos de assistir o que tinha pelo Mundo nos Canais como TV GLOBO,TV BAND, TV TUPI ,TV RECORD e outros poucos canais.
    Grato por lembrar esta parte da minha Vida.
    Bela Crônica.
    👏👏

  3. Clarice keri disse:

    Obrigada por essa crônica leve e gostosa de ler sobre uma série tão importante pra nós, e obrigada por me sitar, aliás, a minha Ferrari meu filho destruiu o que me deixou furiosa. Tenha certeza, você vai encontrá-lo um dia.

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