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PARÁFRASE (“Aos nossos filhos” – Ivan Lins)

Perdoem a excessiva frivolidade e a excessiva superficialidade, pois eles não enxergam nada além de si mesmos, ainda que digam “eu te amo” com certa cerimônia.

Perdoem se eles não olham para o outro, pois não conseguem tirar os olhos de seus celulares – tão ou mais importante do que acontece ao redor deles, é o que acontece longe dali, via “whatsapp”.

Perdoem se eles não conhecem a música, se não viram o filme, se não leram o livro, se não sabem do que se trata, nem se interessam por saber. O mundinho em que se enquadram basta-lhes por enquanto, mesmo porque não têm interesse algum em conhecer além do pouco que sabem.

Perdoem a falta de educação estampada no vocabulário pobre e por vezes chulo – eles não têm recursos de expressão além de meia dúzia de palavras repetidas com as quais julgam estar comunicando alguma coisa.

Perdoem a maturidade que nunca chega. A adolescência que insiste em ficar, a falta de responsabilidade e de seriedade quando a vida assim o exige. Querem ter infinitos 20 anos…

Perdoem, por fim, a mentira que contam para si mesmos quando dizem que querem alguém para amar e para serem amados; que querem namorar, que querem um “cara especial”, que gostariam de encontrar “alguém que valesse a pena”. Mentem porque não querem nada disso, na verdade – apenas encontram um motivo a mais para justificar a vida vazia que levam desde há muito tempo.

Quando foi que os dias ficaram assim?

E quando conhecerem alguém realmente bacana e honesto, alguém a fim de um relacionamento em que as concessões serão necessárias…

E quando souberem de um rapaz com capacidade para ouvir o outro sobre seus temores, medos e necessidades, sem que o discurso seja interrompido com olhares distantes…

E quando encontrarem um homem que não fuja ao primeiro sinal de problemas, que permaneça, que se mostre forte para que o outro se sinta forte também…

E quando virem alguém que traga poesia no olhar e bondade nas mãos…

E quando transarem com alguém cujo orgasmo seja tão importante quanto o do parceiro…

E quando puderem abraçar a alma de alguém, além do corpo, além dos músculos, além dos bíceps desenvolvidos…

E quando puderem dizer que se entregaram a alguém porque têm certeza de que descobriram o amor…

Digam o gosto pra mim.

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

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