A VISITA
16 de dezembro, 2019
A VIZINHA NA JANELA
10 de janeiro, 2020
Mostrar tudo

QUERIDO PAPAI NOEL, ESCREVO ESTA CARTINHA…

Natal: tempo de festas, confraternizações, trocas de presentes, solidariedade, perdão, tolerância, respeito, amizade, amor… tempo também de se desejar um mundo melhor! Quem sabe conseguimos ajuda para isso!

 

QUERIDO PAPAI NOEL, ESCREVO ESTA

CARTINHA…

      

       Querido Papai Noel, dezembro chegou, as árvores de Natal estão enfeitadas, as lojas já subiram os preços dos brinquedos, os supermercados já elevaram os preços dos alimentos,  e eu só gostaria de fazer-lhe alguns pedidos para a noite de 24(!) de dezembro e para o ano que vai se iniciar.

       Vamos lá:

       Traga um rapaz bem bacana para aquele meu amigo que sonha em ter um namorado com o qual ele possa ser feliz. Não precisa ser rico, nem ter celular de última geração. Se fizer academia, que não seja exagerado com sua vaidade e com seu corpo e saiba, na medida certa, ser carinhoso, atencioso, gentil e companheiro não só quando as coisas estiverem indo bem. Ah, se esse namorado tiver amigos legais, ajuda e muito, viu? E que goste de trabalhar também.

       Por favor, veja se o senhor tem no seu trenó um pouco de “compreensão” para aquele pai que odeia seu filho homossexual e que pensa em jogar o garoto na rua, mas que só não faz isso porque ele, o pai, está desempregado, e o rapaz, mesmo rejeitado, trabalha pra caramba e paga as contas da casa. Será que o senhor consegue um pouco de amor, compreensão e diálogo por parte deste pai?

       Outra coisa: veja se o senhor tem aí no Polo Norte um pouco de honestidade estocada. É, honestidade! Se tiver, conheço alguns empresários que demitem homossexuais por serem homossexuais… os mesmos empresários que, quando suas esposas viajam para a praia com os filhos, acabam indo visitar saunas e cinemas para satisfazerem seus desejos por rapazes na calada da noite.

       Andei pensando, Papai Noel, que o senhor também poderia trazer um pouco mais de humildade para tantos  gays que costumam brincar com o coração das pessoas e não conhecem a palavra “respeito”. A coisa tá feia, Papai Noel. Conheço tanta gente que não está nem aí para os sentimentos dos outros!

       Gostaria que o senhor trouxesse definitivamente a cura da Aids – é que conheço uma moçada meio cabeça de vento que acha que a coisa não é mais séria, quando ela é séria, sim, ao contrário do que muitos querem acreditar hoje. Desculpe se ainda tenho na lembrança a morte de tantos amigos e amigos de amigos e filhos e irmãos de amigos que se foram nas décadas de 80 e 90, deixando um vazio, uma saudade enorme, a pista de dança menos alegre das boates da vida.

       Ah, quero aproveitar também para pedir ao senhor um pouco de sabedoria para esses meninos que se expõem demais quando deveriam ser mais discretos – que eles não deem murro em ponta de faca e saibam preservar sua intimidade nas redes sociais a fim de que não sofram “bullying” e linchamentos morais e físicos. Um pouco de discrição não lhes fará mal… eles confundem “sair do armário” com “imprudência”. O senhor tem “prudência” e “sabedoria” no seu saco de brinquedos?

       Por fim, Papai Noel, já pedindo desculpas pela longa lista de desejos, faça com que os gays das nações mais conservadoras e violentas possam, um dia, viver suas vidas sem perseguições, prisões, torturas e morte precoce. Estenda o Espírito natalino, por favor, sobre todas os países deste planeta. Que o futuro homossexual que está nascendo agora  tenha chance de viver um grande amor – o mesmo amor que, dizem!, é a essência do Natal.

       E muito obrigado por ter lido esta carta com carinho, mesmo tendo os olhos cansados pelos séculos. Sei que, onde o senhor vive, não se faz diferença entre homo e heterossexuais – para o senhor, somos todos seres humanos.

       Feliz Natal, Papai Noel! E paz na Terra aos homens!

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

5 Comments

  1. Professor, há uma parte do texto que é pra mim, “Traga um rapaz bem bacana para aquele meu amigo que sonha em ter um namorado com o qual ele possa ser feliz. Não precisa ser rico, nem ter celular de última geração. Se fizer academia, que não seja exagerado com sua vaidade e com seu corpo e saiba, na medida certa, ser carinhoso, atencioso, gentil e companheiro não só quando as coisas estiverem indo bem. Ah, se esse namorado tiver amigos legais, ajuda e muito, viu? E que goste de trabalhar também”.
    Papai Noel espero ser atendido.
    Bom Natal e bom Ano Novo

  2. Bernadete disse:

    Muito bonito! Papai Noel vai ter trabalho esse ano!🙂 Feliz Natal!!

  3. Roberto disse:

    Não apenas na época de Natal, mas se as pessoas tivessem respeito com as outras, a vida poderia ficar mais “leve”. Feliz Natal, meu amigo Vitão. Parabéns por mais essa impecável crônica!

  4. Baltasar Pereira disse:

    Em uma Crônica sucinta foram abrangidos diversos assuntos muito sérios e de maneira leve,mas que nos faz pensar sobre o Mundo que vivemos. Bela Crônica. Papai Noel teve e continuará a ter muito trabalho. 🤗🤗

  5. Clarice keri disse:

    Que gracinha, me soou ingênua, mas sensível e realista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *