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WILLIAM HOLDEN

WILLIAM HOLDEN

       Se me perguntassem o nome do ator que eu gostaria de conhecer, lá da época de ouro de Hollywood, a resposta seria: William Holden.

       Lembro-me até hoje de quando, em 1981, a Globo exibiu “Férias de Amor” na Sessão da Tarde. Bons tempos aqueles em que, na TV aberta, a gente podia ver grandes filmes mesmo em horário não considerado nobre. Hoje, a coisa está infantilizada de tal forma que fica difícil ver qualquer filme no horário vespertino. Bem, mas essa é uma outra história…

       “Férias de Amor” (ou “Pic Nic”, no original) é um filme de 1955, dirigido por Joshua Logan, e estrelado por Mr. Holden, Kim Novak (belíssima), Cliff Robertson e Rosalind Russel. Eu, então com 17 anos, fiquei encantado com o filme, mais ainda com o protagonista, que fazia o papel de “Hal Carter”, um vagabundo, um homem sem rumo, que passa por uma cidadezinha do Kansas atrás de um emprego na fábrica de grãos de um antigo amigo, filho de um grande empresário (C. Robertson, outro homem muito charmoso e bonito).

       Kim Novak é Madge Owens, namorada do bonitão rico, que, obviamente, apaixona-se por Hal e… vejam o filme. É bonito, é charmoso, é romântico. O tipo de filme que não atrai mais o grande público, sendo relegado à TV fechada, aos canais por assinatura. Uma pena!

       Lembro-me de minha mãe passando na sala e, ao ver o filme que eu assistia, sentou-se e ficou vendo comigo. “Vi esse filme no cinema. Eu tinha uns 17 ou 18 anos”, contou-me ela. E ficamos juntos vendo William Holden e Kim Novak dançando “Moonglow” sob as lanternas coloridas do piquenique do título original.

       E eu descobria William Holden! Bonito, sensual, charmoso, macho sem ser bruto; forte sem ser aquela coisa  meio grosseira que eu sempre achei em John Wayne (fizeram um filme juntos, em 1959, “Marcha de Heróis”); sedutor e perfeito no papel de um homem perdido que “estragava tudo em que punha as mãos” até encontrar Madge. Fiquei apaixonado pelo homem. Minha mãe deve ter percebido – as mães conhecem os filhos mais do que ninguém.

       Eram tempos pré-internet e até pré-videocassete. DVDs não existiam, blu-rays idem; a TV a cabo estava começando a surgir nos Estados Unidos. O jeito era esperar até que outros filmes fossem exibidos nos poucos canais que tínhamos por aqui.

       Nascido em 18 de abril de 1918, no Illinois, William Franklin Beedle Jr., contam os livros, sempre enfrentou problemas com o álcool. Era conhecido como o “Garoto de Ouro” de Hollywood e contam também que alcançou o estrelado já em seu terceiro filme (“Golden Boy””, 1939). Quase perdeu o papel por sua inexperiência, sendo orientado pela atriz Barbra Stanwyck, a quem foi grato até o fim de seus dias. Ele não escondia de ninguém o carinho e a amizade que sentia pela veterana atriz. Holden, parece, desprezava um pouco a profissão que seguia. Precisava sempre do álcool para encarar longos períodos de gravação e para enfrentar os próprios problemas pessoais.

       Um pouco de sorte é sempre necessário: em 1950, o ator Montgomery Clift recusou o papel de um roteirista falido no filme “Sunset Boulevard” (aqui, “Crepúsculo dos Deuses”), e o diretor Billy Wilder ofereceu-o a Holden. Sucesso total com o personagem um tanto cínico, aproveitador, por quem Norma Desmond, a ex-rainha do cinema mudo (Gloria Swanson) se apaixona. Holden está bonito e ótimo na interpretação.  

       São tantos os grandes filmes e os grandes papéis! “Sabrina” (1954), com Audrey Hepburn e Humphrey Bogart – que, muito mais tarde, serviu de inspiração para a novela “Carinhoso” da Rede Globo, em 1973, na qual o triângulo amoroso do filme foi vivido por Claudio Marzo, Regina Duarte e Marcos Paulo.

       “Love is a many splendored thing” (aqui, “Suplício de uma saudade”) de 1955, ou “The Bridge on the River Kwai” (“A ponte do Rio Kwai”), de 1957. Dois filmes cujos temas musicais foram marcantes e inesquecíveis.

       Acabou ganhando um Oscar de melhor ator por “Stalag 17” (“Inferno número 17”), em 1953, tendo sido nomeado por “Crepúsculo dos Deuses” e por “Network” (“Rede de Intrigas”), em 1976.

       Na TV, fez uma participação deliciosa no seriado “I love Lucy” em 1955, no episódio “Love Letters”. Está no Youtube pra quem quiser assistir. Muito engraçado!

       William Holden veio a morrer na Califórnia no mesmo ano em que eu o descobria, 1981. Infelizmente, cheguei atrasado, mas ainda bem que seu trabalho está preservado em livros e mídias as mais diversas. Comprei um filme dele em DVD em Madri, “The dark past” (“Passado tenebroso”), de 1948. O próprio “Pic Nic” comprei numa das várias viagens aos Estados Unidos e, para minha surpresa, com legendas em português, além de inglês, espanhol, francês e chinês.

       Vi esse filme várias vezes com minha mãe. Era um modo de fazê-la reviver sua juventude, sua adolescência repleta de gente como Elizabeth Taylor, Rock Hudson, Rita Hayworth, Bette Davis, Marlon Brando, Cary Grant, Grace Kelly, Doris Day, Ava Gardner… e William Holden e Kim Novak – cada um deles com seu charme e com filmes inesquecíveis.

       “Pic Nic” será sempre, para mim, a lembrança de tantas tardes de domingo em que eu e minha mãe nos sentávamos na frente da TV. Eu fechava as cortinas, estourava pipoca e servia o refrigerante. E a gente se deixava transportar para dentro da tela. Sua cena favorita era a dança dos dois ao som de “Moonglow” – belíssima, delicada, elegante e sensual. Um daqueles momentos inesquecíveis do cinema. Depois de sua morte, ficou difícil rever o filme, mas farei isso no seu devido tempo. Verei outras vezes como pequenas homenagens silenciosas que fazemos a quem amamos – e vou imaginar que ela esteja ali, do meu lado, saboreando esse grande clássico.

       Censura, na maioria das vezes, é algo burro e sem sentido. Para fazer “Pic Nic”, William Holden teve de depilar o peito, caso contrário não poderia ter tirado a camisa em cena. Como um amigo meu, Luiz Paulo, disse, “tiraram o sal da pipoca”.

       Rimos muito e eu concordei.

Vítor França Galvão
Vítor França Galvão
Ariano, professor de português e cronista, é fã de Rubem Braga, Cecília Meireles e Graciliano Ramos (na literatura), de Bruce Springsteen (na música) e Bette Davis e William Holden (no cinema). Gay desde sempre, adora chocolate, filmes clássicos e viagens - principalmente para San Francisco, na Califórnia. Ama seus irmãos e amigos e não dispensa boas e animadas reuniões com eles. Escreve como forma de tentar entender melhor as pessoas e a vida.

4 Comments

  1. Foi você que me mostrou algumas coisas de Holden, lembra? “Pic Nic” foi o primeiro , entre outros. Luiz Paulo tem razão, tiraram o sal da pipoca.

  2. Clarice keri disse:

    Linda crônica que, para mim , se transformou em tributo, uma homenagem ótima de um ator maravilhoso, adorei, obrigada.

  3. Selma Pavone disse:

    Bela e merecida homenagem.

    Gostei muito.
    Obrigada!

  4. Baltasar Pereira disse:

    Como é bom ler Crônicas que nos remetem aos Filmes Bons que víamos anteriormente no Cinema ou na TV. Filmes com “Histórias “.
    Willian Holden
    Willian Holden ,grande Ator e o assistindo não perdíamos suas falas ,seus gestos e expressões fisionômicas.
    Gostoso ler a Crônica e relembrarmos cenas dos filmes citados .
    Adorei a frase ” Tiraram o sal da Pipoca”. Concordo

    Texto muito agradável e nos faz viajar no tempo e fiquei imaginando o autor do mesmo sentado ao lado de sua Mãe vendo “Pic Nic”.

    🤗🤗

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